O Jabuti no Jardim de Reynaldo (por Marina Mara)
Recebi um convite da jornalista Mayara Reis da CBN para fazer uma crítica literária do livro de poesia Sagradas Escrituras, de Reynaldo Jardim, um dos vencedores do Prêmio Jabuti 2010. Aí pensei assim: é pegadinha? Onde esconderam as câmeras? Falar do Rey (por apelido e mérito) é um presente pra mim.
Conheci o Reynaldo na despedida de uma querida amiga que temos em comum, Liana Farias, que foi fazer arte em Buenos Aires. Nessa ocasião, ele me presenteou com alguns livros, entre eles o Sagradas Escrituras, e eu carinhosamente o presenteei com o meu, Sarau Sanitário.com. Há um tempo queríamos nos conhecer e finalmente rolou – foi lindo. Reynaldo é um sagitariano de humor ímpar e emana jovialidade e genialidade-simples por todos os poros e a todo momento.
Reynaldo Jardim iniciou o movimento poético neoconcreto no Rio de Janeiro com seu amigo Ferreira Gullar nos anos cinquenta e foi redator do Jornal do Brasil (JB) por muitos anos. O poeta-jornalista também teve forte atuação na revista O Cruzeiro, Manchete, Radio Globo, Radio Nacional, Rádio Excelsior de São Paulo, entre outros veículos. Reynaldo foi responsável pela reforma literária e estilística de importantes jornais do país. Em 1964 foi obrigado a deixar o JB devido à repressão militar, o que não o impediu de procurar mídias alternativas para continuar dando o seu recado. Em 1967, Reynaldo cria o jornal O Sol – aquele que, nas bancas de revistas, encheu Caetano de alegria e preguiça. O projeto gráfico do jornal era inovador e chegou a ser homenageado no Cinema, com o filme O Sol – Caminhando contra o vento, de Tetê Moraes e Marta Alencar.
Há pouco tempo, em Brasília, fui com algumas amigas a um sarau-jantar na casa do Reynaldo para a qual ele poderia cobrar ingresso na porta. Suas paredes trazem uma exposição permanente de presentes pintados por amigos artistas e a área externa da casa é um jardim de instalações artísticas – as instalações artísticas do Jardim. Reynaldo nos presenteou com a leitura de seus poemas favoritos do Sagradas Escrituras, uma compilação de todos os seus poemas e ilustrações que tem mais de oitocentas páginas. Segundo Gullar, a Poesia Concreta deveria se chamar Poesia Abstrata, afinal, é ao que ela remete. E assim também pensa Reynaldo Jardim, que define sua poesia como Molecular e Abstrata – um passo seguinte à Poesia Concreta.
E esse menino não para quieto. O próximo grande feito do artista é a criação da cidade FUTURA, reservada à artistas que tenham consciência sustentável e desempenhem o papel social da arte. Ele almeja construir a cidade nas proximidades de Pirenópolis – GO. Utopia ou não, estou dentro com minha mala, a minha cuia e a minha poesia.
Sem dúvida Reynaldo é hoje um dos maiores poetas de poesia viva do nosso país e receber um Prêmio Jabuti é uma homenagem mais que merecida. Pelo conjunto da obra, por sua simplicidade e pelo tempero da lasanha da sua Elaina, parabéns Rey.
E a luta (poética) continua, companheiro.
Aviso de conclusão
Há 5 anos